Uma das primeiras coisas que qualquer professor fala nas primeiras aulas do curso de jornalismo é citar a Escola Base. É uma forma de ensinar para a próxima geração de jornalistas de que toda a conversa apresentada no curso de ser imparcial, de ouvir todos os lados da história e de sempre duvidar de tudo não é conversa fiada.
Não por acaso, a série documental Caso Escola Base, dirigido por Paulo Henrique Fontenelle (responsável pelo ótimo Dossiê Jango) e disponível no Globoplay, começa justamente lembrando o quanto esse caso é explorado pelas faculdades. Quem se prepara para ser um futuro jornalista conhece a história e nunca mais esquece. Mas será que o público comum ainda lembra?
A história envolveu falsas acusações de abuso sexual, quando duas mães procuraram a polícia para relatarem comportamentos estranhos em seus filhos que frequentavam o colégio. O diretor traça um estudo completo do que foi o caso que aconteceu na Escola Base no início dos anos 90, em São Paulo.
Ao contrário de uma outra produção, também do Globoplay sobre o mesmo caso (Escola Base – Um Repórter Enfrenta o Passado), a série de Fontenelle discute os acontecimentos com mais profundidade, mais detalhes e ouvindo mais partes.
A partir do momento que as denúncias chegam às redações dos principais jornais, em meio à Semana Santa de notícias frias e poucas movimentações, editores fazem uma escolha: dar ou não a notícia. Um jornalista da TV Globo resolve contar a história primeiro sem checar todas as informações e confiando apenas na palavra da polícia.
Esse é o começo do fim, já que o caso toma grandes proporções e os suspeitos são, de antemão, julgados e condenados pela mídia.
O tal “efeito manada” toma conta da imprensa e todos seguem o que foi noticiado pela TV Globo. Enquanto a imprensa batia cabeça e estampava manchetes sensacionalistas, que seriam facilmente consideradas hoje como “caça-cliques”, a vida dos envolvidos desmoronava diante do olhar julgador da sociedade.
Caso Escola Base vai além da outra produção citada ao assumir dois papéis importantes: primeiro, de relatar como esse caso transformou e destruiu as famílias que foram acusadas injustamente (algumas delas ainda brigam na justiça por indenização); e o outro, mais óbvio, ao traçar um paralelo (mesmo que breve) com os dias atuais ao imaginar esse caso acontecendo hoje com as mídias digitais.
Algumas idas e vindas, entre um episódio e outro ou às vezes até no mesmo capítulo, deixam a narrativa repetitiva em certos momentos. Mas não atrapalham o resultado final, o que acredito ser a obra definitiva sobre o caso.
Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente. (link)