Warner Bros. Discovery à venda: quem vai ganhar essa corrida?

Warner Bros. Discovery à venda: quem vai ganhar essa corrida?

Quando, ainda em outubro, a Warner Bros. Discovery anunciou que estava disposta a explorar uma potencial venda dos seus ativos, deu-se início a um processo que, seja lá quem acabar comprando o estúdio, fará a indústria do entretenimento, como se conhece hoje, passar por grande mudança.

Dona de um império que inclui HBO, CNN e o estúdio Warner Bros., esse gigante tem passado por aperto. Fundada por quatro irmãos em 1923, eles eram proprietários de um cinema na Pensilvânia antes de tentarem a sorte em Hollywood. E começou a chamar atenção no final dos anos 1920, lançando filmes como The Jazz Singer, que promoviam grandes inovações na forma de fazê-los.

Ao longo dos anos, o estúdio se caracterizou por sucessos como Casablanca, O Falcão Maltês, Laranja Mecânica, Os Bons Companheiros — e a lista não para. Mas, nas últimas décadas, a empresa passou pelas mãos de vários donos e, há três anos, quando a Warner Media se fundiu com a Discovery, criou-se um monstro que ninguém sabia bem como administrar.

Mesmo antes disso, outro processo de aquisição traumático foi quando a Time Warner foi comprada pela provedora de internet discada AOL. O resultado foi a Warner perder grande valor nas prestigiosas propriedades que possuía, levando mais de 10 anos para se recuperar totalmente, considerando seu valor de mercado, estabilidade e, acima de tudo, reputação.

Já no período atual, foram pelo menos três mudanças de nome, até que, em junho deste ano, a empresa comunicou ao mercado a intenção de se dividir em duas: de um lado, filmes, TV e streaming; do outro, os canais a cabo que fazem parte do grupo — o mais conhecido deles, a CNN. Esse plano não foi levado adiante, uma vez que, colocada à venda, essa decisão deverá ficar a cargo de quem irá comprar.

Mas quem vai vencer essa disputa?

Com o prazo final para receber uma nova rodada de propostas vencido no último dia 02/12, Netflix, Comcast e Paramount seguem no páreo. Cada uma tem seu modelo próprio de compra, como relatado no artigo do NY Times, mas esse é um negócio também sobre política.

Como acontece em qualquer operação de fusão e aquisição, o órgão federal regulador precisa aprovar. E o presidente Donald Trump, claro, fala publicamente sobre suas preferências. Ele já influenciou uma decisão recente: o cancelamento do Late Show de Stephen Colbert na CBS.

Paramount e sua ligação com Trump

Como mencionado, a CBS fez diversas mudanças recentes, e isso não passou despercebido. Todas vieram logo após um acordo em um processo que Trump movia contra a emissora. Assim, a Paramount, conglomerado dono da CBS, MTV e outros ativos, está sendo vista por especialistas como o principal comprador.

Além da influência política, a Paramount tem um caixa considerável se comparado aos outros competidores, pois boa parte do dinheiro vem dos negócios da Oracle, fundada por Larry Ellison (pai de David Ellison, atualmente CEO da Paramount).

Ele precisa convencer o board da Warner Bros. Discovery de que a aquisição pela Paramount seria um bom negócio. Por enquanto, isso ainda não aconteceu.

Para além disso, o movimento da Paramount traz preocupações para órgãos reguladores, pois a posição dos estúdios de cinema seria fortalecida frente aos exibidores (salas de cinema, basicamente), além de ambos possuírem canais na Europa, que seriam sobrepostos e controlados por um único grupo — o que levanta também preocupações dos órgãos europeus (e eles precisam aprovar o negócio, assim como nos Estados Unidos).

No oposto da Paramount, Comcast também está na disputa

Ao contrário da Paramount, a Comcast não pode se vangloriar de qualquer influência política vinda da Casa Branca atual.

Dona da NBCUniversal, a Comcast também tem objetivo de dividir suas operações. Assim, dentro do modelo de negócio da companhia, o objetivo seria adquirir o estúdio e o serviço de streaming. Essa manobra evitaria, por exemplo, problemas regulatórios para aprovação do negócio.

Além disso, também de acordo com o NY Times, a Comcast estaria pensando em oferecer um cargo para o atual CEO da Warner Bros. Discovery, David Zaslav.

Netflix quer fincar sua bandeira de vez na indústria

Outro player importante que está correndo por fora é a Netflix. O foco é adquirir apenas o serviço de streaming e o estúdio, pensando nas franquias Harry Potter, Batman, Superman e Senhor dos Anéis — todas extremamente lucrativas, com uma base sólida de fãs e muito espaço para continuar dando retorno aos acionistas.

De acordo com o The Wall Street Journal, no entanto, uma potencial aquisição pela Netflix seria um grande alvo para análises rigorosas por parte dos órgãos reguladores.

Isso porque a Netflix, ao possuir também a HBO, exerceria forte influência no mercado de streaming especificamente.

Donos de cinemas preocupados

Todo esse movimento também está causando preocupação nas cadeias de cinema. Eles querem garantir que as produções continuem tendo exclusividade em lançamentos nos cinemas, uma cultura que mudou desde que o streaming passou a ter cada vez mais espaço, oferecendo produções em múltiplas plataformas (TV, tablet, celular etc.).

Outra preocupação, segundo reportagem do Deadline, é que essa fusão poderia reduzir os incentivos para produção de novos conteúdos, além de ter como consequência isolar qualquer chance de um mercado competitivo e mais diverso.

A bola agora está com a Warner Bros. Discovery, mais precisamente com sua diretoria. Não existe um prazo para a empresa tomar uma decisão, mas eles terão que escolher entre aceitar a oferta de um dos players ou, não estando completamente satisfeita, pedir mais propostas ou ajustes naquelas que já existem.

Enquanto isso, a garantia que Hollywood tem é de que a indústria dificilmente será a mesma depois desse processo.

[Atualização 05/12: A bola estava mesmo com a Warner Bros. Discovery, que decidiu até rápido após a segunda rodada de recebimentos de propostas. A decisão é de vender a empresa para a Netflix, que avançou na compra  e agora é a única empresa a ter negociações exclusivas. Ainda não está claro se a oferta da Netflix foi por tudo ou apenas de adquirir o streaming e o estúdio, como tinha sinalizado interesse anteroirmente].

Leave a Reply

Your email address will not be published.