Já são quase dez anos desde que Stranger Things estreou, sem qualquer alarde, na Netflix, conquistando massivamente o público logo de cara. A atmosfera que trazia referências à cultura dos anos 80 resgatou a nostalgia por um tempo em que, sem celulares, a ideia era sair pela rua com os amigos, andar de bicicleta e imaginar grandes aventuras do Dungeons & Dragons (D&D). Sim, eu fazia isso (nos anos 90) e me identifiquei muito com a série.
As crianças apresentadas pelos irmãos Duffer, criadores da série, lembravam aquelas que vimos em Os Goonies, Curtindo a Vida Adoidado ou E.T.. Por marcarem tanto uma geração, acabaram ocupando um lugar especial no coração do público. Mas Stranger Things provou também que tinha algo mais a oferecer, com uma trama repleta de reviravoltas instigantes que desafiavam os personagens a percorrer sempre novas e densas jornadas. Foi assim que conseguiu construir, ao longo desses anos, uma base fiel e sólida de fãs.
Mas agora, quando retornamos a Hawkins — colocada em quarentena pelo exército por conta do que ocorreu no quarto ano —, a primeira parte da quinta e última temporada (a segunda estreia no dia 25/12) evidencia que aquelas mesmas crianças cresceram e, claramente, isso afetou e mudou a história. É tão nítido que os irmãos Duffer precisam se voltar novamente a elas para resgatar parte do propósito da série existir.
Por causa disso, a sensação, na quinta temporada, é que Stranger Things caminha em círculos. O roteiro retoma o desaparecimento de Will (Noah Schnapp) como a chave para toda a trama, mas até chegar nisso vemos toda a trupe (Mike, Dustin, Lucas e companhia) tentando desvendar os próximos passos do grande vilão, Vecna, enquanto os acompanhamos andando de um lado para o outro sem grandes inovações ou justificativas.
Pela primeira vez, os personagens estão estagnados. E, mesmo quando os irmãos Duffer revelam os atos de Vecna, fica a prova de que eles não só requentaram o plot da primeira temporada como também reciclaram a mesma atmosfera em termos de suspense, humor e ação. O Demogorgon, por exemplo, não causa mais assombração ou medo. Quando eles aparecem, e aqui aos montes em determinado momento, só causam aquela reação: “ué! De novo?”.
Perdida em sua própria trama de conspiração, que envolve até o governo, Stranger Things também não consegue sustentar os próprios mistérios que cria. A sequência em que Max conta para Holly sobre sua jornada no Mundo Invertido é constrangedora nesse sentido. Quando uma história recorre a longos diálogos expositivos, é sinal de que se perdeu completamente.
Da metade para o fim do quarto episódio, é possível assistir a pequenos vislumbres do porquê Stranger Things alcançou tanto sucesso. É uma pena, porém, que a série não tenha conseguido acompanhar o amadurecimento de seus próprios atores.

Leave a Reply