Os filmes do diretor britânico Christopher Nolan são sempre super produções, com ambiciosas sequências de ação, desafiadora montagem e atenção aos mínimos detalhes que contarão e muito para a experiência imersiva que o diretor deseja provocar na audiência.
Mas existem elementos que evocam os tradicionais blockbusters de verão. E isso não será diferente em Oppenheimer, que estreia nos cinemas brasileiros na quinta-feira (20).
Nolan quase sempre está interessado em algumas questões filosóficas e riquezas temáticas que ajudam seus filmes a contarem uma boa história além do espetáculo visual.
Um chama atenção de imediato: a questão do tempo. É ele que conecta os variados mundos nos quais seus filmes estão ambientados.
O uso do passado, presente e futuro é uma forma básica de observar como ele usa esse elemento para formar um quebra-cabeças narrativo, onde diferentes partes do tempo se conectam a diferentes eventos e cenários.
Em Dunkirk, por exemplo, aparentemente a história parece seguir por uma linha linear. Nolan até nos coloca no front. Mas à medida que o filme avança percebemos que há três narrativas que ocorrem em lugares diferentes, em condições distintas e acontecem paralelamente.
A Origem é mais um exemplo, pois todo o conceito do filme está baseado no sonho dentro de um sonho, o que leva à criação de até cinco linhas de tempo diferentes que acontecem simultaneamente, no qual cada nível abaixo representa uma dificuldade maior, ou seja, um sono profundo que se revela também um perigo para os personagens.
Nolan vem modulando essa ideia desde os seus primeiros títulos, como Amnésia, no qual as tramas paralelas são separadas pelo tom de cor (uma em preto e branco monocromático enquanto a outra se desenvolve em cores), passando também por Interstellar e, por último, em Tenet.
Para fazer isso dar certo, Nolan conta com parceiros criativos que entendem a visão do que ele deseja transmitir no filme, das trilhas de Hans Zimmer que hoje se tornaram clássicas, ao uso das cores dos seus diretores de fotografia Wally Pfister ou Hoyte van Hoytema, às vezes optando por tons monocromáticos para não distrair a audiência, como em Batman; outras utilizando sobreposições de tons amarelos e azuis que revelam confusão e mistério, como A Origem e O Cavaleiro das Trevas, contrastes que sempre se materializam em seus longas-metragens.
Enquanto seus filmes ganharam grandes dimensões em termos de razão de aspecto, Nolan se prende ainda aos dramas pessoais e conflitos que parecem até pequenos habitando em cenários tão grandiosos. São eles, no entanto, que definem os personagens e a natureza deles.
No fim, é sobre se as histórias desses personagens irão encontrar ressonância na audiência. A julgar pelo sucesso dos seus filmes, ele tem conseguido atingir isso na maior parte das suas produções.
Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link)