Paul Hackett, o personagem vivido por Griffin Dunne, só quer viver. É o que ele repete algumas vezes já no avançar do tempo de Depois de Horas (1985), disponível para aluguel (R$ 9,90) nas plataformas de streaming, quando ele se encontra cansado da noite que está tendo.
A história acompanha Paul, o qual segue uma vida comum de altos e baixos, com frustrações aqui e ali. Ele conhece Marcy (Rosanna Arquete) e, por acaso, os dois marcam de se encontrar à noite. A partir desse encontro a vida de Paul é colocada de pernas para o ar.
Dirigido por Martin Scorsese, que recebeu a Palma de Ouro em Cannes de Melhor Diretor em 1985 por esse filme, é importante pontuar que Depois de Horas não é um projeto pessoal seu.
Enquanto vivia a decepção de ter a filmagem de A Última Tentação de Cristo cancelada pela Paramount, o diretor queria fazer qualquer coisa, para salvar sua carreira, que provasse o fato dele entregar filmes de maneira rápida, simples e objetiva.
Por isso, Depois de Horas é um exercício de estilo cinematográfico cuja narrativa não se prende à trama com início, meio, fim e reviravoltas ao longo dessa trajetória.
Essa abordagem abre espaço para Scorsese explorar os elementos que marcam a sua filmografia: a utilização do espelho como um reflexo à câmera sobre o julgamento que o personagem faz de si mesmo, o tom vermelho que aparece como alerta de perigo e a fumaça a qual funciona como representação do mundo sujo o qual essas pessoas habitam.
Então, enquanto Paul vive a experiência da pior noite da sua vida após o encontro fracassar, aí começam os perrengues para voltar para casa e, depois, ainda passar a ser acusado (injustamente) de ser o ladrão que vem praticando roubos no bairro e apavorando seus moradores.
O que leva à cena mais emblemática de Depois de Horas quando ele se vira para o céu em sua tentativa de dialogar com Deus, e a câmera de Scorsese sob esse ponto de vista, para questionar o que ele fez de errado e o porquê de estar passando por isso.
Depois de Horas é um filme nervoso, pulsante, mas também um desabafo. Só que, ao invés de apresentar um trabalho pesado e melodramático, o caminho escolhido foi a comédia. Um riso cômico na cara dos grandes estúdios que pensam saber tudo mas não entendem nada.
Próximo Filme: Memórias de um Assassino, de Bong Joon-ho.
Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link)