Tudo ao redor de Indiana Jones e O Chamado do Destino, na quinta e potencial última aventura, grita para ele o quanto está ultrapassado. Não é para menos: enquanto dá uma aula de Arqueologia que parece tediosa para quem acompanha, do lado de fora da sala há uma grande celebração pelo retorno dos astronautas americanos que viajaram ao espaço e pisaram na Lua pela primeira vez.
Mas essa é uma aventura de Indiana Jones e, apesar de tudo ao redor pintar essa tela, há momentos em que a experiência é mais importante como na sequência em que ele conserta o motor de um veículo, nos momentos em que ele acha os caminhos mais rápidos do que os vilões e, por fim, nas leituras e interpretações dos enigmas que surgem no caminho.
Por isso mesmo, há espaço de sobra para boas sequências de ação, referências aos filmes anteriores da franquia (sem muita nostalgia) e uma “caça ao tesouro” que, novamente, explora os limites do tempo com a possibilidade de voltar a ele e viver de outra forma. Bem, esse talvez seria o sonho de qualquer bilionário megalomaníaco. Por isso é bom ver Indiana Jones trazendo essas conexões com a realidade, para deixar a trama mais próxima do nosso tempo.
Afinal, é bom que se diga: o personagem vivido por Harrison Ford está aí desde os anos 80. Mas os inimigos continuam sendo os mesmos, com outras roupagens mas os mesmos conceitos.
Então, vermos a versão jovem de Indy brigando com os nazistas em uma longa sequência na abertura do filme, nos faz perceber que o tempo foi cruel com a humanidade, pois ainda hoje somos obrigados a condenar o nazismo enquanto uma determinada parcela da sociedade insiste em trazê-lo à luz.
Enquanto Harrison Ford mais uma vez mostra competência no papel, e James Mangold não compromete mas também não tenta fazer uma aventura “spielberguiana”, quem realmente rouba a atenção é Phoebe Waller-Bridge (Fleabag), como Helena, sobrinha de Indy e uma mercenária no mercado de antiguidades que traz o frescor que a aventura precisava.
O sentimento ao fim da sessão pode ser dividido: às vezes é repetitivo e algumas sequências poderiam ser encurtadas, o que pouparia na duração final do filme. No fim, é divertido sem ser espetacular.
Mas sair do cinema assoviando a composição-tema de John Williams, e com a sensação de ter passado boas três horas na sala, é uma experiência que poderá ser a última com esse personagem.
Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link).