Os filmes de Christopher Nolan, do melhor ao pior

Os filmes de Christopher Nolan, do melhor ao pior

Meu primeiro contato com um filme do diretor britânico Christopher Nolan foi em Amnésia, alugado em alguma locadora de Salvador após ter sido indicado pelo próprio dono.

A partir daí, o interesse foi apenas crescendo e atingiu o ápice com a Trilogia Batman. Nolan consegue, como poucos, embalar histórias complexas em blockbuster, levando multidões às salas de cinema.

E a experiência de assistir qualquer filme seu na grande tela é arrebatadora, em IMAX principalmente. Discuti a estética do diretor em uma newsletter recente (leia aqui) e agora, após ter assistido Oppenheimer, é hora de descobrir em que posição ele está em sua filmografia.

Confira abaixo:

  1. Cavaleiro das Trevas (2008)
    Continua sendo o meu filme favorito de Christopher Nolan. Em, o Cavaleiro das Trevas eleva as suas técnicas de filmagem que estabelecem a tensão necessária do filme, principalmente pelo vilão tão complexo e soberbamente interpretado por Heath Ledger. Por causa desse filme, as produções de super-heróis nunca mais foram as mesmas, ainda que poucas tenham conseguido atingir esse nível de exatidão.
  2. O Grande Truque (2006)
    Nolan continua dialogando com os mesmos temas de seus filmes anteriores, principalmente relacionado ao tempo. O mais interessante em O Grande Truque é que ele consegue implementar esses assuntos que mais o interessam tendo como pano de fundo uma história que captura, acompanhando dois mágicos e a rivalidade deles no final da Londres vitoriana. Além disso, O Grande Truque tem David Bowie, voltando a trabalhar como ator depois de muitos anos, interpretando Nikola Tesla. Filmaço!
  3. Amnésia (2000)
    Ao contrário do título, é impossível esquecer Amnésia. O frescor da montagem não-cronológica de Christopher Nolan nos leva a uma curiosidade em acompanhar a narrativa que só aumenta à mesma medida que o seu personagem principal tenta se lembrar dos acontecimentos – para isso, ele tatua as informações no próprio corpo. É como se ele estivesse vivendo na mesma dimensão de O Feitiço do Tempo. Há buracos no roteiro, já digo de antemão. Ainda assim, é entretenimento puro e de (muito) boa qualidade.
  4. A Origem (2010)
    Quando assisti pela primeira vez no cinema, saí completamente fascinado pelo filme e, claro, pelo final aberto a discussão que o diretor propõe. À medida que fui revisitando, A Origem foi me parecendo mais superficial, com muita explicação e uma engenharia narrativa que é exaustiva em certos momentos. Algumas sequências de ação, no entanto, permanecem incríveis.
  5. Batman Begins (2005)
    Quem será que esperava que o reinicio de uma franquia como Batman iria apresentar um personagem tão sombrio, complexo e problemático? Ninguém, provavelmente. Mas se mostrou a decisão mais acertada para afastar Batman Begins de filmes horríveis como Batman Eternamente (1995) e Batman e Robin (1997, esse eu nem quero ver na minha frente). Nolan preenche a tela com um Bruce Wayne em busca da sua própria identidade e de propósito, em um filme que confronta seus grandes medos.
  6. Dunkirk (2017)
    Minha impressão é que boa parte da existência de Oppenheimer reside também no fato de Dunkirk existir. Nolan nesse filme eleva sua arte, uma vez que une sua ambição da história ser contada em múltiplas camadas de tempo ao mesmo tempo que subverte o que é um filme de guerra, como Terrence Malick certa vez o fez com Além da Linha Vermelha (1998). A diferença entre os dois é que Nolan não está tão interessado nos porquês da guerra e, ao não oferecer nenhuma backstory dos soldados que estão ali presos, trata todos como uma unidade que busca sobrevivência.
  7. Oppenheimer (2023)
    Como sempre acontece nos filmes de Nolan, ele ambienta bem a tensão à medida que a narrativa cresce. Mas aqui não seria tão necessário jogar tanto com os mistérios como se nos conduzisse por meio de um quebra-cabeça. Talvez se ele fosse mais objetivo o resultado seria ainda melhor – e a duração do filme, com certeza, menor.
  8. Interstellar (2014)
    A tentativa de Nolan em fazer um filme sobre astronautas viajando no espaço para encontrarem uma nova casa para a humanidade, já que a Terra está se tornando inabitável, resulta em um filme confuso e que às vezes beira a arrogância. As sequências filmadas por Nolan revelam a imensidão do espaço e o tanto que o desconhecemos, mas falta algum toque humano. Parece cerebral demais e a serviço de explicar buracos negros e outros termos do tipo, enquanto a emoção e os conflitos dos personagens são colocados em segundo plano.
  9. Following (1998)
    As técnicas de Nolan estão todas nesse primeiro trabalho como diretor. Mas há uma coragem em experimentar que ajuda também a catapultar a sua carreira e coloca seu nome no mainstream. É claro que a forma truncada da montagem nos obriga a perguntar em seus filmes se há sempre essa necessidade e se isso contribui para a narrativa. Em alguns casos, apenas se torna cansativo. O que não acontece aqui. Em razão do orçamento limitado, muitas cenas são filmadas com a câmera na mão e isso confere realismo à trama, a qual acompanha um personagem que segue outros na região central de Londres.
  10. O Cavaleiro das Trevas: Ressurge (2012)
    Há um enorme problema no filme que conclui a Trilogia de Batman: a primeira metade do filme é uma tentativa desesperada de descobrir qual é a história, o que está acontecendo e quais as motivações para tudo isso. Tem muita coisa sendo mostrada na tela, muitos personagens com objetivos próprios e uma Gotham à beira da destruição, no caos completo. Um filme difícil pelas cenas de tortura e violência provocadas por Bane
  11. Insomnia (2002)
    Primeiro filme dirigido por Nolan logo após o sucesso de Amnésia, Insomnia é adaptado da produção norueguesa de mesmo nome, dirigida por Erik Skjoldbjaerg. Insomnia é um clássico policial, no qual dois detetives (Al Pacino e Martin Donovan) investigam o assassinato de uma adolescente em uma região remota do Alasca. Como o lugar é quase sempre dia, um dos conflitos do personagem é sofrer de insônia enquanto tenta limpar algumas bagunças da investigação que ele próprio criou.
  12. Tenet (2020)
    Esse é o pior filme da carreira de Nolan e o único que realmente tive dificuldade de chegar até o final. E quando se chega lá, você ainda se pergunta o que assistiu e como perdeu mais de duas horas do seu dia. Supostamente, deveria ser uma tentativa de Nolan criar um filme baseado em um dos seus gêneros favoritos, de espionagem. Mas a história não é interessante e o filme não é divertido em si. Tudo é grandioso em Tenet, até a própria ambição do diretor que, pela segunda vez em sua carreira, soa arrogante demais.

Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link).