“Segredos de um Escândalo” é um filme de complexas camadas

“Segredos de um Escândalo” é um filme de complexas camadas

Há três ou mais pontos de vista em Segredos de um Escândalo, novo filme do diretor Todd Haynes (Carol). E cada um deles se revela à medida que a narrativa se aprofunda na história, o que oferece também uma chance para conhecer as personalidades dos personagens.

A trama acompanha Elizabeth (Natalie Portman), uma atriz prestes a começar as filmagens de um novo filme. Nele, Elizabeth interpreta uma mulher condenada por estupro de um garoto de 13 anos. Em seu processo para interpretar essa personagem, ela parte para conhecê-la, Gracie (Julianne Moore), e estudá-la. Assim, ela também começa a se relacionar com a sua família, concebida por um escândalo sexual (real, por sinal) que chocou a comunidade, e com vizinhos.

Todd Haynes primeiramente se inspira em Persona (1966), clássico de Ingmar Bergman, para apresentar o processo de transformação de como Elizabeth pouco a pouco vai se tornando Gracie, estudando seus maneirismos, perguntando as maquiagens que usa e copiando os tons de roupa que ela utiliza. A inspiração não está apenas no processo, mas também nos close-ups que revelam uma tensão desconfortável.

É claro que há o ponto de vista, então, do método de Elizabeth e, ao mesmo tempo, Gracie se torna uma outra perspectiva pela qual assistimos a história, essa mulher condenada por um crime terrível (porque ser flagrada traindo o marido é o menor dos problemas nessa questão). Ao cumprir a pena, em algumas fases até grávida, continuou o relacionamento com esse adolescente.

Joe Yo (Charles Melton, que deveria estar ganhando todos os prêmios de Ator Coadjuvante pela performance nesse filme) é por onde enxergamos o outro lado da história. Claramente traumatizado pela experiência de ter sido molestado por Gracie, mesmo assim eles se relacionaram. Mas em determinado momento de Segredos de um Escândalo, a gente como espectador se questiona se até que ponto ele não foi manipulado para continuar.

Porque de todas as camadas do filme, e poderia descrever outra que é a antiga família de Gracie a qual já tinha até filhos quando o caso veio à tona ou os vizinhos em choque mesmo após tantos anos (a família de Gracie é rejeitada), a que mais fascina no final é a perspectiva de Joe Yo em toda essa história. Apesar da boa atuação de Natalie Portman, que às vezes não sei se ela é Elizabeth ou Gracie, Joe Yo ainda parece a criança de quando foi violentado por Gracie, ingênuo e sem a malícia dos adultos.

[Texto originalmente publicado na versão anterior do Sob a Minha Lente]

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