A brincadeira de tentar bancar o CEO acabou. Succession exibiu seu último episódio no último domingo, na HBO Max. Como não poderia deixar de ser, é um capítulo que captura a dor de uma família destroçada por tantas referências ruins. Porque, no fim, o coração da série está nas relações familiares. E esta sofre um abalo sísmico cuja recuperação nunca saberemos se será ou não possível.
[CUIDADO: SPOILERS A PARTIR DAQUI]
Ao chegar finalmente no último episódio que decreta um desfecho para essa fábula satírica e profundamente triste, Succession encontrou a maneira perfeita de colocar os irmãos Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin, espetacular) em uma encruzilhada: seremos unidos para sempre ou essa relação acaba agora.
Há uma disputa até o fim para saber quem vai controlar e ser o CEO efetivo da Waystar Rocco após a morte repentina de Logan (Brian Cox). Os acordos pareciam certos, houve até uma celebração (ao modo dos irmãos) para comemorar esse entendimento.
Mas na hora do “vamos ver”, Succcession nos obriga a testemunhar, de forma dolorosa, a quebra desse acordo e, por consequência, o vazio da relação afetiva que os irmãos uma vez tiveram.
Cada um responde de uma forma com essa decisão. Para Roman, um alívio. Para Shiv, uma chance de continuar orbitando o poder e, quem sabe um dia, chegar lá e sentar na cadeira que foi do pai. Mas, para Ken, uma nova decepção.
A mesma que ele havia sentido na primeira temporada da série. E talvez a mais devastadora de todas, ao ver não só Tom (Matthew Mcfadyen, em temporada digna de prêmios) emergir como novo CEO mas, principalmente, por dessa vez a traição vir dos seus irmãos.
Em torno dessa brutal reviravolta para Kendall, impressiona como Succession plantou esse desfecho ao longo do episódio. Tudo se conecta ao elemento da água e seu simbolismo que remete ao estado mental desse personagem, pontuada pelo acidente que culminou em morte na primeira temporada até a tentativa de suicídio na terceira.
Quando os irmãos fazem o acordo que deixaria o controle da empresa nas mãos dele, esse compromisso é firmado enquanto nadam. Isso se revela mais tarde como uma pista da tragédia que aconteceria, porque água e Kendall não foram feitos um para o outro.
Nessa terapia de família a céu aberto, ninguém saiu vencendo. Somente o público, brindado com uma série que entra agora para o panteão das grandes séries já exibidas na televisão.
Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link)