“Uma Batalha Após a Outra” é o filme urgente que estes tempos pedem

“Uma Batalha Após a Outra” é o filme urgente que estes tempos pedem

Antes de escrever qualquer linha sobre Uma Batalha Após a Outra, é preciso dizer o seguinte: Paul Thomas Anderson (PTA) é um dos meus diretores favoritos. Já perdi a conta de quantas vezes assisti Sangue Negro, Boogie Nights ou Trama Fantasma. Dito isso, também preciso contar que assistir a seu novo filme no cinema foi uma das experiências mais catárticas e hilárias que já tive em uma sala. É como entrar de um jeito e sair uma pessoa completamente diferente.

Neste novo trabalho, PTA — que também assina o roteiro, baseado livremente no livro Vineland, de Thomas Pynchon — apresenta uma história sobre resistência, com personagens lutando contra um governo autoritário e opressor que está em constante perseguição aos imigrantes. Soa familiar, não é mesmo? Além disso, é o primeiro filme do diretor em anos (com exceção de Licorice Pizza, que é mais uma história de descoberta) que não é ambientada em uma época diferente – mesmo que todos eles sublinhem aspectos da nossa sociedade atual. Em Uma Batalha Após a Outra, PTA é mais direto e coloca a sua história justamente em nossos dias.

Uma Batalha Após a Outra é o filme necessário e urgente que estes tempos sombrios pedem. E sua abertura não poderia atestar isso melhor: uma operação do grupo revolucionário French 75, liderado por Perfidia Beverly Hills (Teyana Taylor) ao lado de seu parceiro Bob Ferguson (Leonardo DiCaprio), liberta imigrantes na fronteira entre EUA e México e faz reféns os militares que estavam ali — entre eles o psicopata e racista coronel Steven Lockjaw (Sean Penn).

Nos primeiros trinta minutos de filme, acompanhamos o French 75 realizando operações contra bancos e órgãos do governo, enquanto Lockjaw, tomado pela obsessão desde o primeiro confronto com Perfidia, passa a perseguir o grupo com o intuito de reencontrá-la. Quando tudo desmorona — Perfidia é presa e delata seus companheiros — cada integrante precisa se esconder e viver no anonimato.

É então que Uma Batalha Após a Outra corta para dezesseis anos depois. Bob Ferguson agora vive em uma cidade considerada um bastião de resistência; está praticamente aposentado da luta armada (e visto como herói), é pai solteiro de Willa Ferguson (Chase Infiniti) e passa os dias fumando e assistindo a documentários sobre outras batalhas revolucionárias. Até que suas vidas — a dele e a da filha — são novamente chacoalhadas pela obsessão de Lockjaw, que lança uma operação militar na cidade para encontrá-los.

Antes mesmo desse ponto, Uma Batalha Após a Outra já atingia um ritmo de narrativa pouco visto hoje. Paul Thomas Anderson conduz sua história com enorme segurança, elegância, humor e convicção. Ele também conta com colaborações importantes: a fotografia de Michael Bauman (Licorice Pizza), com sua habilidade em construir planos abertos e transições em fade — como na belíssima sequência inicial em que os corpos de Perfidia e Bob se movem um em direção ao outro — e a trilha marcante de Jonny Greenwood, que soa quase como um alerta toda vez que é tocada.

Aliás, a trilha de Greenwood está tão presente aqui quanto em Trama Fantasma, sendo um dos seus melhores trabalhos nestes anos de colaboração com Paul T. Anderson. O diretor, talvez sem perceber, presta até uma homenagem ao Radiohead logo no início do filme, quando Deandra (Regina Hall) fala “women and children first” quase como se estivesse evocando à letra de “Idioteque”. Também não pude deixar de notar que Uma Batalha Após a Outra traz um paralelo interessante com outra música do grupo londrino. Em “The Gloaming”, Thom Yorke repete “they will suck you down to the other side”, que soa como um alerta de como esses governos autoritários operam, sejam proibindo livros nas escolas ou censurando a expressão artística.

Tudo isso ocorre enquanto, supostamente, a história evoca temas considerados “polêmicos” apenas para a extrema direita que certamente deve ter se reconhecido no filme. Um exemplo é o grupo supremacista branco chamado de Aventureiros Natalinos que, pelo absurdo do nome e pela forma como Anderson os retrata, pode ser facilmente associado aos MAGA e aos bolsonaristas dos dias de hoje.

Mas também é importante dizer que Uma Batalha Após a Outra é uma história sobre família — mais especificamente, sobre o amor e o desespero de um pai tentando resgatar sua filha. Isso transforma o filme em algo profundamente humano, para além de qualquer traço político ou de guerrilha que ele contenha.

Por isso o filme provoca sentimentos tão intensos: a revolta ao vermos imigrantes presos na fronteira ou membros do French 75 encarcerados e interrogados; e a euforia genuína ao assistir Sergio St. Carlos (Benicio del Toro) pedindo para Bob respirar enquanto ele corre para se lembrar de uma senha que permitirá falar com a resistência e descobrir o paradeiro de sua filha.

E, ainda assim no meio de tanto caos e revolta, há uma ponta de otimismo. Perfidia comenta, em uma carta à filha, que sua geração não conseguiu, mas confia na próxima — justamente a de Willa. Logo em seguida, ela ouve que a polícia anti-imigração está atacando em Oakland e sai imediatamente para se juntar àquelas pessoas e lutar pelo que é certo. Um tom de esperança perfeito antes de nos catapultar de volta à realidade.

Uma Batalha Após a Outra (One Battle After Another, 2025)

Diretor: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson, inspirado livremente no livro Vineland de Thomas Pynchon.
Elenco: Leonardo DiCaprio, Sean Penn, Benicio Del Toro, Teyana Taylor, Regina Hall e Chase Infiniti.
Duração: 161 minutos
Disponível: Cinemas ou para Aluguel em plataformas de streaming

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