Não é toda série que consegue após algumas temporadas se manter relevante ou com aquela mesma chama de novidade quando foi exibida pela primeira vez. A Maravilhosa Mrs Maisel, criada por Amy-Sherman e Daniel Palladino (Gilmore Girls) e disponível no Prime Video, pode ser adicionada nesta categoria. E isso logo quando a série demonstrava certa fadiga no quarto ano.
A renovação para a quinta e última temporada não foi uma surpresa, mas havia uma necessidade de buscar um desfecho para Miriam “Midge” Maisel (Rachel Brosnahan, de House of Cards). Apesar de ainda ter alguns episódios a serem exibidos para encerrar a série, o quinto capítulo entrega a curva de amadurecimento e uma garantia de que A Maravilhosa Mrs. Maisel não irá decepcionar nesse final – tomara que eu esteja certo.
Nessa temporada, os Palladino subverteram a narrativa certinha que tanto marca os seus trabalhos. Ao trazerem viagens no tempo (flashforwards) que pincelam pouco a pouco o destino dos personagens, a série ganha uma dinâmica que justamente faltava nas temporadas anteriores, quando confiava exclusivamente no texto e nas atuações do elenco. Esses elementos são tão bons que não é preciso mesmo forçar nada, mas trazer algo novo quando faz sentido à narrativa é sempre bom.
E isso me traz ao quinto episódio (“The Pirate Queen”), que me fez rir como há muito tempo eu não conseguia – assistindo qualquer coisa, seja filme ou série (talvez alguns especiais de comédia de Dave Chappelle que revi recentemente mas, como sou fã, não contam tanto). Esse capítulo é uma prova do quanto o elenco e o texto da série são afiados. Isso fica claro na sequência do casamento de Zelda, empregada doméstica da família Maisel.
A cerimônia acontece no apartamento dos Maisel e tudo está bem até o discurso do noivo, quando ele fala que a partir de agora Zelda não mais precisará se preocupar em trabalhar e outras coisas mais. A família Maisel, ao ouvir isso, saem do estado total de alegria para uma preocupação cômica e hilária ao se verem na iminência de perder o privilégio de ter uma pessoa que faz tudo por eles. A cena é muito bem construída, em cima de tudo que a série contou até o momento, e é impossível segurar o riso.
Por outro lado, a sequência em si ajuda a evocar a questão do tempo que marca essa temporada. Os flashforwards não são apenas um recurso de montagem, tornando-se um elemento narrativo importante que mostra, de um lado a passagem do tempo e como determinados costumes vão se tornando obsoletos, e do outro os pulos que sinalizam onde os personagens chegarão após toda a história que acompanhamos. Uma decisão corajosa dos Palladino, mas que fez todo sentido e abre espaço para as características mais ricas da série brilharem: o texto e o elenco.
Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link)