‘The Curse’ é uma sátira bem apropriada para os tempos atuais

‘The Curse’ é uma sátira bem apropriada para os tempos atuais

A nova série The Curse, produção do estúdio A24 para a Showtime (aqui no Brasil exibida pelo Paramount+), teve o primeiro episódio liberado na última semana. É bem esquisita e desconfortável, mas talvez o que ressoa de fato no primeiro episódio é quando Whitney (Emma Stone) questiona o fato das pessoas acharem que seus atos não têm consequências. Lógico que tem (ou deveriam ter). E é exatamente o que The Curse tenta provar.

A trama de The Curse, criada por Nathan Fielder (The Rehearsal) e Benny Safdie (Jóias Brutas), acompanha o casal Ash (o próprio Fielder) e Whitney Siegel (Stone) que estão estrelando e produzindo um reality show sobre suas vidas e cotidiano, com direção do manipulador Dougie Schecter (Benny Safdie), no qual eles realizam boas ações e se colocam como filantrópicos para que essa publicidade impulsione seus negócio de casas ecológicas que eles querem emplacar na pequena comunidade conhecida como Española, no Novo Mexico.

Satírica e engraçada, The Curse tem uma abordagem até inventiva ao contar essa história que acontece no jogo de câmera: enquanto assistimos o reality show sendo produzido em tempo real, vemos os personagens cercados pelos residentes locais e interpretando personagens, isto é, posando de bonzinhos com segundas intenções; por outro lado, quando os vemos na sua intimidade, a câmera adota um afastamento, como se os enxergasse por meio de espelhos refletindo a verdade e conturbada vida que eles levam.

Ao mesmo tempo, The Curse funciona também como uma crítica social às produções desse gênero e levanta questões sobre gentrificação e até minimalismo, buzzwords que se tornaram queridinhas dos ricos que desejam impor o estilo de vida deles.

É nesse contexto, aliás, que The Curse apresenta cenas desconfortáveis como na sequência inicial da filmagem do início do reality show que apresentam as boas ações de Ash e Whitney e o diretor, na tentativa de captar emoção, molha o rosto e os olhos de uma senhora (com câncer) que dava entrevista com o único objetivo de manipular um choro que sequer ela tinha sentido.

São exemplos daquelas manobras que acontecem nos bastidores de qualquer programa e que nunca ficamos sabendo, pois assistimos apenas o produto final cujo principal objetivo é captar a nossa atenção e, claro, nosso sentimento de empatia.

Mas a ambição traz consequências. Mérito de The Curse ao conseguir ambientar bem a trama, os personagens e estabelecer uma estética provocativa que nos faz questionar até onde eles estarão dispostos a ir para alcançarem o almejado sucesso.

Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link)