A mídia sempre cobriu amplamente a luta do ator Michael J. Fox contra o Parkinson, descoberto quando ele tinha apenas 30 anos no auge do seu sucesso no início da década de 90. Porém, o documentário Still: Ainda sou Michael J. Fox, dirigido por Daves Guggenheim (Uma Verdade Inconveniente, Malala) disponível na Apple TV+, retrata a trajetória do ator com uma intimidade nunca apresentada aos holofotes.
Ele próprio escondeu por quase dez anos que sofria da doença. Hoje, Fox é reconhecido pelos investimentos que a fundação que leva o seu nome faz na tentativa de descobrir tratamentos que possam melhorar a vida de quem sofre dessa mesma condição. E nesse documentário ele conta a sua história para uma grande audiência.
Quando me refiro a “ele conta a sua história”, é porque Guggenheim dá a Fox essa chance de falar diretamente para a audiência, sentado em uma cadeira de frente para a câmera, como se estivesse de fato olhando para nós que estamos assistindo-o. Isso torna o documentário quase como uma conversa, se equilibrando entre momentos hilários, quando é possível rir do timing que Fox tem para a comédia, outros difíceis quando ele relembra a descoberta do diagnóstico (o fato de não aceitar por achar que “Parkinson é uma doença de velho”) e até românticos, quando a narrativa se concentra na sua história de amor com Tracy Pollan que começou ainda no set da série Family Ties (1982-1989).
Enquanto Fox mostra o seu talento para contar história, e também para lidar com o Parkinson ainda que seja difícil se equilibrar algumas vezes e conviva com constantes quedas aqui e ali que trazem enormes problemas, Guggenheim acerta ao deixar a montagem mais ágil para refletir o quão rápido Fox se movimenta (cerébro e corpo).
Isso é um contraponto às recomendações dos seus fisioterapeutas e médicos, que a todo momento pedem “mais calma” ou “vá mais devagar”. Algo que ele só consegue controlar a base de medicamentos.
Mas o trunfo de Still: Ainda Sou Michael J. Fox reside em não mostrar a sua história definida pela doença. Claro, o Parkinson é um elemento importante. Mas não pode ser o todo, uma vez que o documentário celebra o grande talento de Michael J. Fox, seu início difícil quando faltava dinheiro até para comer, suas passagens pela televisão e o enorme sucesso em De Volta para o Futuro que o catapultou para o estrelato – e tendo que lidar com isso, algo que ele discute que deveria vir com um “manual de como se preparar para a fama”. Michael J. Fox, e sua família, conseguem rir do Parkinson.
E acho que nós, como audiência, passamos a rir também depois de assistir essa história. Não há remédio melhor contra essa ou qualquer doença.
Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (`link)