‘Os Encanadores da Casa Branca’ quer fazer rir com o escândalo do Watergate

‘Os Encanadores da Casa Branca’ quer fazer rir com o escândalo do Watergate

O escândalo político de Watergate já foi explorado à exaustão. Para mim, há uma obra definitiva que é Todos os Homens do Presidente (All the President’s Men, 1976), dirigido por Alan J. Pakula e um dos longas-metragens que influenciam até hoje a estética de histórias jornalísticas e escândalos políticos, seja no cinema ou nas séries. Como os filmes, então, perderam um certo interesse por essa trama, considerando que a história já foi contada, o momento é das séries chamarem atenção para o caso – talvez com o intuito de educar as novas gerações.

Em 2022, o canal Starz lançou a série Gaslit (disponível no Lionsgate+ no Brasil), que se concentra na trajetória de Martha Mitchell, esposa de John Mitchell (ex-procurador geral dos EUA). Agora, em 2023, é a vez da HBO Max recriar os eventos de Watergate com a minissérie de cinco episódios Os Encanadores da Casa Branca. Ao contrário do drama quase de época que Gaslit apresentou, a HBO vai na contramão ao buscar o humor na tentativa de requentar uma história por tantas vezes produzida em Hollywood.

A sátira criada por Alex Gregory and Peter Huyck, ambos responsáveis também por Veep, encontra ressonância no humor ainda que persiga o riso o tempo inteiro – mesmo quando não há necessidade ou clima para isso. Com uma homenagem prestada logo no início ao clássico Todos os Homens do Presidente, ao recriar aquele plano famoso da fachada do Watergate, eles colocam no centro da narrativa G. Gordon Liddy (Justin Theroux, de The Leftovers) e Howard Hunt (Woody Harrelson, de True Detective) como as duas “mentes brilhantes” por trás do escândalo e apresenta dois homens dispostos a servir o presidente e ir até as últimas consequências para isso. Contratados para conter o vazamento do que depois veio a ser conhecido como Pentagon Papers, eles logo são “promovidos” e passam a ter ligação direta com a campanha do presidente Nixon à reeleição.

Este personagem, o presidente, por sinal nunca é mostrado na tela. E sua ausência oferece um efeito narrativo que funciona na série para transportar o que aconteceu naquela época para os dias atuais. Há inomináveis figuras mundiais para referenciar, todas elas influenciadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos e que hoje enfrenta uma batalha Legal na Corte americana. É interessante, por exemplo, em uma cena de Liddy e Hunt durante uma “missão” em Beverly Hills, quando eles apontam para as mansões onde moram estrelas como Warren Beatty ou Paul Newman, e logo em seguida gritam: “comunistas!”.

A cena é engraçada no ponto certo e ilustra bem o sentimento de paranóia da época (tensões com Rússia e Cuba), mas é ainda mais palpável para o tempo que vivemos, no qual esse sentimento foi reaceso. E também são estas as ideias utilizadas para justificar as tomadas de decisão da dupla e convencer outras pessoas. Mas a série não nos deixa, pela ausência de Nixon, conectar isso a ele – mas sim ao último presidente que ocupou a cadeira na Casa Branca. Por outro lado, há diversos maneirismos que enfraquecem a narrativa quando a série quer exibir seus personagens principais tomando ações estúpidas e sendo estúpidos – há um “quê” de irmãos Coen nisso, da “comédia de erros” que mais tornam esses personagens tristes e trágicos do que efetivamente bem-sucedidos e sabedores do que estão fazendo.

No final, o resultado é bastante dividido, com momentos que a série consegue prender a atenção e sentimos vontade de segui-la enquanto outros tão desinteressantes que é preciso segurar o dedo no controle para não pular.

Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link)