Wes Anderson é um daqueles diretores que somos capazes de reconhecer qualquer um dos seus filmes assistindo por apenas alguns minutos. É como estar mudando os canais na televisão e desse de cara com um filme passando. Não demoraria muito para você saber que se trata de uma história sua.
Ele se transformou em um dos cineastas mais influentes da sua geração, tendo inspirado muitas outras produções em diferentes mídias que vão além do cinema. Na próxima semana, chega aos cinemas brasileiros (com enorme atraso) o seu mais recente trabalho Asteroid City, que foi exibido em Cannes nesse ano.
Mas o que torna seus filmes tão característicos? Para começar, a estética das obras de Wes Anderson baseiam-se em simetria na composição de cenas, equilibradas com planos panorâmicos ou aproximações instantâneas e bruscas.
E o resultado dessa técnica enaltece a narrativa, proporciona harmonia e é agradável aos olhos. Mas, além disso, fornece um ponto focal preciso. Isso dá a sensação de que cada cena é (como se fosse) o cenário de um grande palco de teatro.
Isso permite que outra característica se destaque: as cores. A paleta de cor une cada quadro naturalmente e define o tom da história. Wes Anderson vem refinando isso desde o seu primeiro filme Bottle Rocket (1996), sendo importante notar como esses elementos estão à serviço da narrativa e não apenas colocados por capricho do diretor.
Há, portanto, uma paleta de cores bem determinada em cada filme: Moonrise Kingdom (2012) combina cores quentes transitando entre o amarelo suave, que indica segurança e o amor entre Sam e Suzy — ao mesmo tempo que dá também um tom nostálgico à narrativa; já se observarmos The Life Aquatic with Steve Zissou (2004), o vermelho se destaca ao direcionar nossa atenção à tripulação (e algo similar acontece em The Grand Budapeste Hotel (2014).
Nesse filme de 2014, aliás, impressiona como o nível visual de Anderson atinge o ápice, com a paleta de cores transitando para indicar a passagem de tempo e o declínio do hotel. No início vemos tons fortes de vermelho, nos ambientes, e o roxo dos figurinos que mostram todo o esplendor do Grand Budapeste. Mais tarde no filme, as cores vão sendo dessaturadas para não terem brilho.
Existem outros dois elementos visuais que se conectam à paleta de cores e a simetria, que são as tomadas longas, o que confere senso de continuidade, e também sequências em câmera lenta com o objetivo de enfatizar a cena e o movimento dos personagens.
Por último, seria impossível não citar os temas recorrentes nos filmes do diretor. Usualmente, Anderson retrata personagens desajustados e que tentam encontrar o seu lugar. Há um arco dramático de amadurecimento, como em Rushmore (1998) e estágios diferentes da vida e seus conflitos nos ótimos Moonrise Kingdom e Fantastic Mr. Fox (2009) – e também no recente The French Dispatch (2021).
Ao retratar histórias tão universais que tornam-se palpáveis para nos relacionarmos enquanto audiência, a estética super autoral do cineasta nunca atrapalha, ou sequer passa a ideia de absurda. Enquanto talvez essa estética enalteça como Anderson se renuncia ao realismo para ambientar suas histórias, os temas nos trazem exatamente para a realidade.
E é por isso que o diretor conseguiu criar e estabelecer um estilo tão próprio.
Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link)