Oldboy não é aquele típico filme que prepara a audiência para o tipo de história que vai assistir. Se você nunca assistiu, é bem possível que já tenha ouvido falar. E com certeza tudo o que mais falaram foi sobre Oldboy ser muito violento. Mas reduzir o filme, dirigido por Park Chan-wook, a somente isso é um erro.
O centro da narrativa de Oldboy, baseado no mangá escrito por Garon Tsuchiya e ilustrado por Nobuaki Minegishi, se concentra na trajetória de vingança de Oh Dae-su (Choi Min-sik), um homem comum que é aprisionado por um motivo que desconhece e solto 15 anos depois também sem saber o porquê de ter sido libertado.
Entretanto, a profundidade emocional do filme não está necessariamente na violência. Oldboy é mais sobre a jornada de autoconhecimento de Dae-su o qual, em razão dos quinze anos preso secretamemte, nutriu um sentimento de raiva que ele precisa expurgar ao mesmo tempo que tenta compreender quem fez e o porquê de ter feito.
Apesar disso, as sequências violentas se tornaram clássicas. A mais emblemática delas é quando Dae-su enfrenta uma gangue num corredor com apenas um martelo, filmado em um plano sequência lindamente executado pelo diretor Park Chan-wook.
Mais sutil do que as cenas violentas, é a provocação de Park ao nos colocar na cabeça de Dae-su. Porque o enredo de Oldboy não é completamente claro ou sequer aparece pronto no filme.
Vamos descobrindo à medida que Dae-su também conecta os pontos, o que nos faz sentir a sua mesma angústia, representada por uma jornada torta que ele não sabe contra quem vingar ou o que vingar.
Esse é, aliás, o elo principal da chamada Trilogia da Vingança que Park Chan-wook criou. Oldboy é o filme que está entre Mr. Vingança (2022) e Lady Vingança (2005). As tramas são soltas entre eles, mas essa sensação de confusão permanece em cada personagem que Park acompanha.
Até que essa confusão, no caso de Oldboy, leva a uma sequência brutal que são os últimos 30 minutos do filme, numa reviravolta que explode as nossas cabeças. Dae-su chega a implorar pela morte, o que torna a jornada dos personagens de Oldboy trágicas desde o primeiro momento que os conhecemos.
Há uma fala no filme que sempre fica na minha cabeça, quando um dos personagens fala que “procurar vingança é a melhor cura para aqueles que foram machucados”. Isso me faz pensar em outro filme, O Segredo dos seus Olhos (2009), quando a raiva causada pelo senso de injustiça leva um dos personagens ao extremo e se vingar ele mesmo.
Vivemos em um mundo onde a raiva se espalha pela sociedade e, com ela, o desejo por vingança.
Basta ver guerras recentes ou os conflitos que envolvem policiais e traficantes que, por último, vitimam pessoas inocentes (em ambos os casos, em guerras no Oriente Médio e no Leste Europeu, ou nas comunidades das grandes cidades).
Isso me leva a dizer que poucos filmes atuais conseguem entregar o nível de experiência que Oldboy provoca, de surpreender e causar desconforto ao mesmo tempo que é sufocante, do início ao fim.
Próximo Filme: Faça a Coisa Certa, de Spike Lee.
Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link)