‘Priscilla’ aborda solidão com a sensibilidade já conhecida de Sofia Coppola

‘Priscilla’ aborda solidão com a sensibilidade já conhecida de Sofia Coppola

A solidão é um tema muito presente nos filmes da diretora Sofia Coppola. Encontros e Desencontros, sua estreia na direção, define “de cara” esse tom quando vemos a protagonista vivida por Scarlett Johansson na janela do hotel, olhando a movimentação das pessoas, e totalmente sozinha. Isso continuou em Maria Antonieta, Somewhere e mesmo Bling Ring. Às vezes, não importa o quão rodeado de pessoas as personagens estão, bem lá no fundo elas se sentem totalmente sozinhas.

Priscilla, seu mais recente filme adaptado do livro de memórias Elvis e Eu (lançado em 1985) escrito por Priscilla Presley, narra a história dessa garota de 14 anos, vivendo em outro país e que, “do nada”, está em uma festa dada por Elvis Presley, já famoso e dez anos mais velho que ela. e logo em seguida se vê apaixonada.

Mas uma das primeiras vezes que a vemos na tela é quando Priscilla está sozinha, na cozinha da casa onde mora, e sua mãe tenta animá-la dizendo que ela vai fazer novas amizades. E Priscilla responde que não quer fazer novos amigos. Mas o que ela quer, então?

Com uma bela atuação de Cailee Spaeny (Mare of Easttown, Devs), Priscilla parte por uma jornada desconhecida de transformação, da fase adolescente à idade adulta, vivendo um romance com uma das maiores estrelas do seu tempo (aqui vivido por Jacob Elordi, ótimo também no papel) ao mesmo tempo que se vê sozinha nesse mundo.

Sofia Coppola faz questão sempre de mostrar essa solidão, seja na casa em Graceland, ou enquanto caminha de maneira solitária no corredor do colégio e mesmo quando a diretora a coloca encarando o espelho e isso revela a melancolia desse estado de isolamento. Mesmo quando Elvis está por perto, ela não deixa de se sentir dessa forma uma vez que toda a sua entourage participa ativamente da vida dos dois.

É também fascinante como Coppola observa essa história de amor se desdobrando, mas sem deixar de notar em como Elvis se coloca o tempo inteiro como dominador cuja superioridade masculina dita o que Priscilla pode ou não fazer, o que ela veste ou não ou o corte de cabelo que usa. É como se Priscilla não tivesse vontades, a não ser serví-lo.

Por isso a sequência final é tão forte e, ao mesmo tempo, devastadora. A trilha sonora, tão criativa e bem escolhida pelo Phoenix (o vocalista é marido de Coppola) ao pontuar os estados da personagem nessa montanha-russa de emoções, adota o clássico de Whitney Houston para mostrar a libertação de Priscilla.

Priscilla chega a esse ponto de repensar tudo o que está fazendo a partir do momento que a sua filha, Lisa Marie, entra na sua vida. É quando ela percebe o verdadeiro significado de que estar rodeada por pessoas não é o mesmo que estar conectada com elas. Johnny Marco percebe o mesmo em Somewhere, quando a filha de 11 anos faz uma visita surpresa.

Mesmo em meio a todo esse isolamento e solidão, Priscilla é retratada no filme como uma mulher corajosa. E não podia ser diferente, navegando por uma sociedade machista e de culto à celebridade que ignora sentimentos – ainda mais sendo mulher. A coragem a fez viver um amor com Elvis Presley, mas também a levou a ser independente, valorizar a si mesma e pensar no futuro melhor para ela e sua filha.