‘True Detective: Night Country’ entrega final arrepiante

‘True Detective: Night Country’ entrega final arrepiante

Durante boa parte do episódio que encerra a temporada de True Detective: Night Country, disponível na HBO Max, eu conseguia sentir a história completamente me arrepiando. A cada peça que se encaixava no quebra-cabeça e fazia sentido gerava não apenas uma reviravolta à trama, mas potencializava ainda mais o significado que True Detective: Night Country alcançou. Para uma série que estava jogada no limbo, foi uma ressurreição e tanto.

E toda essa força se deve à forma que Issa López imprimiu à história, assim como as atuações de Jodie Foster e Kali Reis. Nesse último episódio, duas importantes questões precisam ser respondidas: quem matou os cientistas da Estação Tsalal? E quem assassinou Annie K?

Em pouco mais de uma hora de capítulo, True Detective dá uma resolução satisfatória a ambas. O que surpreende e arrepia é como essa dinâmica de eventos ocorre.

A ideia central dos casos não foge muito do que Issa López fez em Os Tigres Não Têm Medo (2017), utilizando metáforas de um conto de fadas para tratar da grave questão de violência dos cartéis e como essa realidade atinge as crianças no México. Em True Detective: Night Country, dá para conectar essas organizações criminosas com a mineradora que atua em Ennis (Alasca), a qual maquia os números de poluição em favor da ganância enquanto mata pessoas inocentes por meio de contaminação da água e do próprio meio ambiente.

Dá para traçar, também com isso, um paralelo real com o que acontece na terra yanomami. E serve ainda para tantos outros exemplos que envolvam a forma como o ser humano maltrata o meio ambiente, sob a justificativa que estão pesquisando a salvação da humanidade – ou apenas sendo capitalistas mesmo.

Além das questões sustentáveis, a qual True Detective: Night Country chama atenção, essa temporada funcionou também como caso investigativo por todas as nuances e camadas que a série desenvolveu ao longo dos seis episódios. E até nisso o programa me ganhou, porque entre o quarto e quinto capítulos, pensei que True Detective: Night Country está correndo demais e deixando algumas coisas importantes pelo caminho.

Uma delas é Rose Aguineau (Fiona Shaw), que pensei por um momento que teria mais tempo de tela e contribuições à narrativa. Não aconteceu durante a temporada, mas no sexto episódio ficou claro o seu papel. O caso Wheeler, que aqui assombra o passado de Liz e Navarro, quando eram parceiras, também foi pontuado de maneira solta, mas ganhou merecido destaque no final – e ainda fica a curiosidade no espectador, ao colocar o choro de uma criança no desenrolar da sequência. Que criança seria essa? Ou foi algo da mente de Danvers ou de Navarro?

Por outro lado, True Detective: Night Country encontrou uma boa saída para a espiral que aparece na primeira temporada (leia o texto que escrevi sobre as referências). Não só é parte da cultura, ou do folclore de Ennis, como consigo enxergar um significado a partir da fala, também da 1ª temporada e que se repete nesta na boca de outro personagem, quando diz que “o tempo é um círculo plano e todos nós estamos presos nele”.

De fato o mundo dá voltas – como a vida. Às vezes acontecem eventos que parecem coincidências, mas trazem algum significado maior que nos leva de volta a um ponto de partida. É filosófico demais – apesar de True Detective: Night Country estimular isso no espectador -, mas é interessante perceber como a narrativa deu algumas voltas até colocar as personagens de volta onde tudo começou: a estação Tsalal.

Ao mesmo tempo, foi importante para True Detective: Night Country recuperar referências do primeiro ano para assim estabelecer a sua própria jornada. Há pontos em comum, principalmente nas visões que os personagens têm de pessoas que já se foram ou, uma menos óbvia, no fato de que tanto Liz e Rust perderam filhos ainda crianças e como esse trauma marca a vida dos dois: Liz foi para o Alasca na tentativa de se encontrar, enquanto Rust saiu de lá para fazer o mesmo.

Há muitos elementos interessantes no episódio, da beleza com que as cenas são filmadas no gelo subterrâneo (a câmera rodando em círculos no clímax do episódio é boa sacada) ou na imensidão de uma tempestade de neve, passando pelo desfecho mais do que bem-sucedido que a série encontrou.

Marcada por personagens fortes e uma história eficaz em sua mensagem no fim, essa é uma temporada que será lembrada ao longo desse ano.