‘Asteroid City’ retrata questões existenciais que misturam arte e vida real

‘Asteroid City’ retrata questões existenciais que misturam arte e vida real

O novo filme do diretor Wes Anderson, Asteroid City, que estreou nos cinemas brasileiros na última semana, pode ser tudo menos sobre uma cidade que se chama “asteróide”. Na realidade, a história contada por Anderson se desenvolve em uma linha muito tênue no qual a vida imita a arte e vice-versa.

Por um lado, o filme oferece um olhar único ao modus operandi do diretor, aqui encapsulado por Conrad Earp (Edward Norton), um autor teatral famoso prestes a lançar seu novo e aguardado trabalho: Asteroid City.

Todo o processo criativo de Conrad Earp é descrito detalhadamente por um narrador (Bryan Cranston). Enquanto vemos a peça ser encenada, no qual todo o elenco estrelado de Wes Anderson brilha, há uma outra trama por trás com esses mesmos atores buscando o alcance da perfeição enquanto se perguntam se são bons para os papeis que ganharam — alguns até questionam se estão de fato entendendo a história.

Como é de se esperar de um filme de Wes Anderson, há metalinguagens pairando na tela e movem a narrativa. O melhor exemplo é o protagonista, Augie Steenbeck (Jason Schwartzman), que na peça vive um fotógrafo de guerra esperando o momento mais seguro para contar aos seus filhos que a mãe deles faleceu – enquanto que, na vida real, ele é apresentado como um ator que pratica O Método e inseguro sobre sua própria performance.

Na peça em si, a estrela Midge Campbell (Scarlett Johansson) se aproxima da persona e estrelato de Marilyn Monroe, cuja ideia do diretor é representar nela as pressões sofridas por atrizes na indústria.

A partir daí, Asteroid City escancara diversas questões existenciais relacionadas ao que pensamos da vida, o qual pautam o texto de Anderson enquanto ele, mais uma vez, estiliza o filme com a sua estética tão fácil de reconhecer.

Essas discussões, no entanto, não passam despercebidas e estão lá emolduradas pela nossa ideia de existência de vida fora da Terra ou simplesmente pelos conflitos que cada geração vive: os personagens de Asteroid City, especificamente, vivem o ano de 1955 marcado pela Guerra Fria estabelecida e lançamentos de programas espaciais em resposta à União Soviética.

O sentimento exposto na tela por Anderson é real, e se aproxima da geração de hoje que não viveu a Guerra Fria mas que superou COVID-19 e quarentena forçada – apesar da linha ficcional que o diretor traça com a sua estética que nos remete à fábula e à ficção.

Asteroid City é o retrato de muitos personagens performando, como atores, personas que eles receberam a responsabilidade de apresentarem; mas também como humanos, interpretando a própria vida única e singular de cada um. Uma jogada que dá para assistir em alguns outros filmes, mas não com a mesma originalidade.

Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (`link)