Uma das coisas que acho mais impressionante quando assisto uma série é a capacidade de evoluir ou expandir os horizontes ao longo das temporadas. Todo grande programa faz esse movimento, até para tornar a história mais envolvente. Isso sem perder a coesão, ou seja, sem desfigurar a pintura que foi criada dos personagens quando os conhecemos.
Reservation Dogs (disponível no Star+) faz exatamente isso em sua terceira e última temporada. A série passou de uma história sobre quatro pré-adolescentes que vivem na reserva indígena em Oklahoma e enlutados pela perda precoce de um amigo, para se transformar em uma série transcendental sobre a importância da comunidade, dos laços familiares e de amizade que terminam superando as adversidades e limitações de oportunidades intrínsecas ao lugar que vivem.
O novo ano começa exatamente de onde a última terminou, quando Bear (D’Pharaoh Woon-A-Tai), Willie Jack (Paulina Alexis), Elora (Devery Jacobs) e Cheese (Lane Factor) estão em uma aventura na Califórnia para espalharem as cinzas do amigo morto, cumprindo uma promessa de que um dia eles iriam viajar juntos até LA. Um sonho interrompido precocemente.
No entanto, Sterlin Harjo (um dos criadores ao lado de Taika Waititi) usa essa atmosfera de encerramento para se aprofundar e valorizar a própria cultura indígena, marcada por personagens míticos (a Deer Lady que o diga, fora todos os espíritos que aparecem aqui e ali), por rica história e também por profunda dor – impressiona como Reservation Dogs traz a questão dos internatos para dentro da sua história, algo que eu só tinha visto com mais clareza em 1923 (Paramount+).
Reservation Dogs amadurece nesse processo e isso se reflete nos episódios. Cada personagem ganha ainda mais presença, uma vez que cada capítulo da temporada é focado em cada uma das pessoas que vivem nessa comunidade. E é brilhante como a série encontra maneiras de entrelaçar a vida dos jovens com as dos anciãos (os mais velhos da cidade fictícia de Okren), que um dia já foram também os mais novos neste mesmo lugar.
Isso, aliás, foi o que mais me conquistou e emocionou. Porque, no fim, o que somos nada mais é do que uma continuidade dos mais velhos (familiares ou não). E precisamos deles, algo que Reservation Dogs deixa bem explícito, para absorver conhecimento, cultura e aprendizados sobre a vida.
É assim que garantimos que ensinamentos e memórias sejam passados adiante. Reservation Dogs cumpre um papel maior ensinando isso.