O primeiro jogo que assisti de futebol americano na minha vida foi do New England Patriots. Era justamente o Super Bowl (mas eu não sabia disso). A partida estava sendo transmitida pela Band e os Patriots jogaram contra o New York Giants. Gostei das cores dos Patriots, da luta do time em virar o placar. Naquela oportunidade, os Patriots perderam – uma temporada invicta, eu ficaria sabendo depois. Mas gostei do time e comecei a acompanhar.
À medida que eu fui aprendendo sobre futebol americano, mais fui sabendo que aquela equipe dos Patriots estava no processo de consolidação de uma dinastia que havia começado em 2001, ano do 11 de setembro. Esse período marca também a decisão (improvável) do treinador Bill Belichick após as primeiras semanas daquela marcante temporada: manter Tom Brady, então o terceiro quarterback do time, no lugar de Drew Bledson (o QB de US$ 1 milhão), a cara da franquia e que havia se lesionado gravemente em uma partida.
Depois disso, tudo o que conhecemos é história e, hoje, Brady é apontado por muitos como o melhor jogador (da sua posição) de futebol americano. É essa a história que assistimos em The Dynasty: New England Patriots, da Apple TV+.
A série documental reconta a trajetória desse time desde o momento que Robert Kraft compra a organização na década de 90, na escolha de Bill Belichick como técnico após trabalho conturbado em Cleveland, a seleção de Tom Brady na 199ª posição do draft e a construção de uma dinastia liderada por esse trio: Kraft-Belichick-Brady.
Muitas outras séries documentaram essa época, como A Football Life: Bill Belichick, Do Your Job, Tom vs Time, etc. Portanto, é difícil imaginar que a série, claramente inspirada no sucesso de Arremesso Final, sobre Michael Jordan e os tempos vitoriosos do Chicago Bulls, pudesse trazer alguma coisa nova. E pelo dois primeiros episódios, a única novidade é o fato de cobrir a aquisição dos Pais por Kraft e alguns vídeos caseiros dos jogadores.
Entretanto, tem algo sim que pode ser tratado como novidade e um diferencial na série da Apple TV+, que é o fato de reunir todas as principais figuras (inclusive Belichick, que não parece muito à vontade em dar as entrevistas) falando sobre aqueles tempos de glória (19 temporadas consecutivas de vitórias, 9 aparições em Super Bowl, 6 anéis e mais um monte de recordes quebrados), mas também de muitas tensões no relacionamento entre técnico e sua principal estrela – ambos movidos pela ambição de vencer, mas de personalidades muito fortes que vez ou outra entravam em atrito.
Baseado a partir do livro do jornalista Jeff Benedict, que teve total acesso aos bastidores do time nas últimas temporadas que marcaram o fim do ciclo Belichick-Brady, The Dynasty intercala as entrevistas com vídeos de treinamentos, vestiário, lances de grandes partidas e momentos que pontuaram o sucesso do time.
The Dynasty não tem a profundidade de Arremesso Final, até por conta das entrevistas e depoimentos dados por Michael Jordan que realmente escancararam o relacionamento entre jogadores e comissão técnica dos Bulls. Os jogadores dos Patriots oferecem alguns olhares rápidos para essa camaradagem, e quando acontece sempre enriquece o que estamos assistindo para ir além do óbvio daquilo que já vimos.
Mas a série é um deleite para quem é fã de esportes, seja torcedor ou não dos Patriots. E como torcedor que sou, agradeço por ter testemunhado a segunda década dessa dinastia.