The New Look, série que está disponível na Apple TV+ e criada por Todd A. Kessler (Damages, Bloodline), busca ser um drama sobre dois nomes importantíssimos da alta costura francesa: Christian Dior (Ben Mendelsohn) e Coco Chanel (Juliette Binoche). E tenta responder (ou investigar) sobre a forma de como lidaram durante a Segunda Guerra Mundial e a ocupação nazista que durou quatro anos em Paris.
Essa é uma das primeira perguntas que abrem a série quando Dior está na Universidade Sorbonne para discursar, já no pós-guerra e com um nome fincado para sempre na cultura francesa. Perguntado sobre o que ele achava de ter feito vestidos para as namoradas e esposas dos nazistas enquanto Coco fechou a sua boutique, Dior explica que as coisas não são exatamente assim “preto no branco”. The New Look, então, volta no tempo para contar como essa história aconteceu.
Mas são tantos problemas que mal conseguimos lembrar do porquê estarmos assistindo a série. Nos primeiros três episódios, nada de mostrar como “a arte devolveu espírito e vida ao mundo”, uma mensagem que aparece na abertura da série e é inspirada na coleção de 1947 lançada por Dior. Isso, claro, de acordo com as minhas pesquisas. Porque The New Look não se preocupa em traçar esse paralelo, mas apenas joga essa frase na tela para causar algum efeito.
Na trama em si que a série se dispõe a narrar, Dior costura vestidos para pessoas ruins trabalhando sob a tutela do ateliê de Lucien Lelong (John Malkovich, se esforçando para imitar o sotaque francês enquanto fala em inglês). O dinheiro que ele recebe contribui para financiar a causa da Resistência, a qual sua irmã Catherine (Maisie Williams) faz parte. Já Chanel mora no Ritz, hotel ocupado pelos nazistas e que é feito praticamente de escritório por eles durante a ocupação.
Mas a série causa ainda outros impactos negativos. É difícil compreender como The New Look não deixa os personagens falarem em francês – para uma sociedade que detesta falar inglês, esta é uma decisão que incomoda desde o início. E as coisas pioram, acredite.
A grande questão é que The New Look trata Dior e Chanel de maneiras bem diferentes. E isso se torna um problema na narrativa, porque Coco não recebe o tratamento justo que Dior ganha na série.
Ambos lutavam por sobrevivência, mas The New Look demonstra mais afeto pelas decisões de Dior enquanto Coco é retratada como alguém que até questiona de que lado está, cuja ambição em retomar a sua empresa a leva a fazer negócios com os nazistas – dispostos a ajudá-la com a questão, que envolve judeus e por isso eles decidem aplicar leis arianas ao antigo parceiro de Coco. Em troca os nazistas pedem favorzinho à estilista para convencer Churchill de um acordo de paz e enviá-la em uma missão secreta quase como uma agente do terceiro reich.
Toda a trama beira o absurdo e as intrigas só vão piorando à medida que a série avança, porque em um momento vemos Chanel em Berlim e na cena seguinte ela está de volta a Paris. Isso sem falar em Dior, atuando quase como um detetive em busca de notícias da sua irmã após ela ser capturada pela Gestapo e enviada para um campo de trabalho.
Em tempos de guerras reais e genocídios acontecendo na Palestina, na Ucrânia, no Sudão e em tantas outras partes do mundo, The New Look é uma afronta e não serve sequer como escapismo porque a série, mesmo no meio de tanta loucura e superficialidade, não reserva qualquer momento para refletir sobre o Holocausto que até hoje marca a sociedade.