O Melhor Está Por Vir novo filme dirigido e escrito pelo cineasta italiano Nanni Moretti, quer refletir sobre muitas coisas. São várias ideias lançadas no colo do espectador, na tentativa de reforçar a ideia de um artista em crise. Não criativa. Mas preocupado com a direção que a arte está tomando.
O filme acompanha Giovanni (o verdadeiro nome de Nanni Moretti e interpretado pelo próprio), um diretor de cinema decidido a fazer um filme ambientado na Roma dos anos 50 durante a invasão soviética da Hungria. É um “passion project“, desses que pode levar um cineasta a tudo para defender o seu desejo de contar a história do seu jeito.
Ao mesmo tempo, fora do set de filmagem, Giovanni lida com um casamento em ruínas, uma filha apaixonada por um homem muito mais velho que ela, um elenco que não segue seus pedidos e uma equipe que o pressiona a tomar várias decisões importantes, a qual já passa por uma crise financeira depois que o principal investidor da obra é preso acusado de calote.
O Melhor Está Por Vir se esforça para ser efetivo na construção de metalinguagem de um filme dentro de outro filme. Isso não é novo. O principal exemplo é 8½ (o mais clássico desse estilo), de Federico Fellini e uma clara inspiração neste filme. Mas também no recente Asteroid City, de Wes Anderson, que usa as mesmas características para retratar questões existenciais que se misturam entre vida real e arte.
Tanto 8½ quanto Asteroid City são eficientes na questão metalinguística e no que se propõem de serem ambos filmes bastante pessoais para seus realizadores ao utilizarem esse meio para refletirem sobre seus próprios conflitos. Algo que O Melhor Está Por Vir quer muito fazer e falha miseravelmente.
No oposto disso, o filme de Nanni Moretti traz um cineasta totalmente neurótico, irritante e apático. A maneira como ele atua na frente da câmera, falando sempre alto e mais pausado é desconcertante, tornando-o uma pessoa que não desejamos estar próximos.
O Melhor Está Por Vir é também confuso de suas ideias, ainda que uma se sobressaia e seja a única que levarei do filme. É a sequência de uma ficcional reunião de Giovanni e sua esposa com um serviço de streaming (Netflix), na tentativa de vender os direitos do filme e conseguir financiamento para finalizá-lo. A cena contribui para reforçar os motivos de preocupação do diretor para onde a arte está indo, tão imediata e definida por métricas incompreensíveis que sufocam as histórias originais.
Sem identidade e adotando vários clichês (o pai que tenta apresentar sem sucesso um filme clássico à filha adolescente), a monotonia de O Melhor Está Por Vir o transforma em um filme esquecível à medida que sobem os créditos.