Carlos Ghosn, ex-CEO da Renault e Nissan, era uma celebridade até meados de 2018. O executivo andava em paddock da Fórmula 1, fazia festa no palácio de Versailhes e estampava capas e mais capas das grandes revistas de negócios ao redor do mundo.
O sucesso tinha explicação: em poucos anos, ele conseguiu recuperar duas empresas do setor automotivo que estavam à beira da falência. Ao mesmo tempo, tinha muita gente incomodada com isso.
Procurado: A Fuga de Carlos Ghosn acompanha toda a ascensão de Ghosn e também a sua queda, quando foi preso no Japão no que pode ter sido uma armação criminosa para derrubá-lo e impedir uma fusão entre ambas as empresas.
Inspirada no livro “Boundless: The Rise, Fall and Escape of Carlos Ghosn”, escrito pelos jornalistas que acompanharam o desenrolar deste caso de perto, Nick Kostov e Sean McLain, a série da Apple TV+ é diferente e mais rica do que o longa-metragem da Netflix lançado em 2022, CEO em Fuga: A História de Carlos Ghosn.
Apesar de abordarem a mesma história, a produção da Apple TV+ traz entrevistas de novos personagens e relata, com mais detalhes, o proceso que culminou em sua prisão e o plano elaborado para sua fuga do Japão.
Um problema comum aos dois se dá nas tentativas de recriar eventos que estão sendo narrados pelos entrevistados. Não apenas são mal projetados, como também se tornam expositivos e se transformam em uma bengala para amparar uma série que facilmente poderia ser feita em dois episódios.
Outro problema de Fuga: A História de Carlos Ghosn, é que a série tenta fazer novas revelações mas nunca se preocupa em aprofundar ou mostrar o porquê de estar fazendo. O passado envolvendo o pai de Ghosn é um exemplo disso, jogada no terceiro episódio para ilustrar um perfil da personalidade de Ghosn que simplesmente não se sustenta.
O interessante mesmo está quando a série relata o plano de fuga, como as decisões foram tomadas e quais as artimanhas utilizadas para burlar a segurança japonesa – elementos onde a produção da Netflix peca, por exemplo. Os conflitos nesse momento aparecem, o documentário consegue estabelecer alguma tensão e relaciona isso também com o trabalho e cobertura dos jornalistas.
A sensação que dá é de que a série da Apple TV+ foi até onde era possível ir e esgotou o assunto. A fuga continua sendo cinematográfica. Só não inventem agora uma produção ficcional. Hollywood adora isso, mas nem mesmo a Inteligência Artificial se empolgaria em recontar essa história.
Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link)