‘O Faz Nada’ cultua a culinária argentina enquanto critica sofisticação gastronômica

‘O Faz Nada’ cultua a culinária argentina enquanto critica sofisticação gastronômica

É (quase) sempre cômico quando um crítico é retratado em alguma produção porque, na maioria das vezes, as excentricidades o tornam um ponto de partida de alguém que queremos acompanhar só para ver até onde vai a sua excentricidade.

Essa é uma das premissas de O Faz Nada, nova série disponível no Star+ e que vem da Argentina. Nela, Manuel (Luís Brandoni) é um experiente e renomado crítico gastronômico, respeitado e temido tanto quanto Anton Ego na animação Ratatouille (2007).

Manuel vive um eterno bloqueio criativo que já dura 20 anos e é muito bem cuidado por Celsa (Maria Rosa Fugazot), sua funcionária que realiza tudo perfeitamente do jeito que ele gosta.

A vida de Manuel, que nunca fez nada na vida de lavar uma roupa a cozinhar a própria comida, desmorona com a morte repentina de Celsa. Mas tudo muda com a chegada de Antonia (Majo Cabrera), imigrante paraguaia indicada por uma antiga namorada e amiga, Grace (Silvia Kutika)

Há um fator interessante na narrativa de O Faz Nada que reside na presença de Robert De Niro, interpretando um crítico e escritor de Nova York cuja narração oferece praticamente um perfil jornalístico de como é a personalidade de Manuel.

Isso faz uma boa diferença na diversão da série porque O Faz Nada não apresenta nada de novo em termos de conflitos e, principalmente, de como encontramos o personagem e a curva de eventos que o transformam.

Na verdade, é até óbvio considerando que o mesmo desfecho é visto magistralmente em Ratatouille. Em O Faz Nada, a presença de Antonia faz Manuel enxergar o mundo de uma maneira mais simples, sem a sofisticação que vemos no início. Mas é muito forçado o crédito que a série dá a ela sem ter conseguido desenvolver bem essa trama.

Porém, na maior parte do tempo O Faz Nada arranca algumas risadas e entretém bastando não levá-la muito a sério – as excentricidades justificáveis de Manuel são tratadas com bom humor e as melhores sequências é quando ele aparece se comportando com desdém e arrogância porque, de fato, é engraçado.

Talvez mais do que tudo isso, Nada é uma minissérie que cultua Buenos Aires e a gastronomia argentina, apresentando a beleza de suas ruas, restaurantes e parques ao invés de degradar a cidade com cenas da crise econômica. É um escape da realidade e funciona bem.

Texto originalmente publicado na newsletter Sob a Minha Lente (link)