‘Sr. & Sra. Smith’ atualiza bem o filme e as dinâmicas de relacionamento

‘Sr. & Sra. Smith’ atualiza bem o filme e as dinâmicas de relacionamento

Espionagem não é o centro da narrativa de Sr. & Sra. Smith, seja no filme lançado em 2005 e que se transformou em enorme sucesso (muito por causa do casal “Brangelina”), protagonizado por Brad Pitt e Angelina Jolie, ou mesmo agora neste remake em formato de série que estreou no Prime Video, com Donald Glover (Atlanta) e Maya Erskine (Pen15).

No filme de 2005, a história se concentrou na discussão sobre casamento – e a espionagem usada como metáfora para divertir e constranger ao mesmo tempo. Essa dinâmica é repetida na série, mas discutindo conflitos desse tempo que vivemos – o que, convenhamos dizer, é muito diferente daqueles idos de 2005.

Na série, John e Jane, pseudônimos usados pelo casal recém-formado por uma Organização ainda misteriosa cuja comunicações das missões são enviadas por meio de um bot, HiHi, são duas pessoas que já tentaram de tudo para consolidarem suas carreiras e não obtiveram sucesso. Assim, ao aplicarem para esse novo “emprego de alto risco”, é a última chance que eles acreditam ter para se recolocarem no mercado após passagens por Exército e CIA, respectivamente.

Essa trama subverte o que é a história original, quando Brad Pitt e Angelina Jolie já trabalhavam como espiões, ainda que um não saiba do emprego do outro, e depois descobrem que eles fazem isso para empresas rivais.

Sr. & Sra. Smith usa isso como grande triunfo, partindo justamente da premissa de que a espionagem é apenas um meio para nos levar a conhecer mais sobre essas duas pessoas. E a série faz isso com incrível charme, pois a química entre Glover e Erskine funciona muito bem enquanto um entrega frases de efeito para o outro, construindo piadas divertidas como na cena do primeiro episódio quando eles estão de vigias no parque e usam o tempo para tentarem se conhecer.

É verdade que a ideia do casal de espiões, que começa com um amor falso mas que depois evolui para algo mais sério, foi muito bem retratada há alguns anos em The Americans (Star+) – Sr. & Sra. Smith até faz uma referência, não à série mas ao fato de que esta é uma prática comum utilizada no mundo da espionagem, basta saber que The Americans é baseada em histórias verídicas.

Mas ao contrário da melancolia e tensão da guerra fria que The Americans retrata, Sr. & Sra Smith é mais leve e solta, cujo formato de “caso da semana” oferece espaço para que cada missão tenha a presença de convidados de peso como Paul Dano, John Turturro, Wagner Moura, Micaela Coen, Ron Perlman, dentre outros.

A série até transforma “o romance falso” rápido demais em “algo mais sério”, deixando essa parte da trama forçada. Apesar de Jane impor limites no início enquanto John está mais interessado em se aproveitar da situação de que são casados.

Mesmo assim, Sr. & Sra Smith estabelece o tom desde o começo, traz missões que representam desafios complicados, tensos e que questionam a decisão que Jane e John tomaram que os levaram até ali.

É um remake que daria para viver sem e até parece desnecessário. Dada, no entanto, a forma como a série foi desenvolvida parece que é exatamente o tipo de produção que precisamos para matar um pouco de tempo, divertir e tentar não pensar em muita coisa.